27 de janeiro de 2007

details

... difícil explicar o porquê de fotografar um cabo num tronco de árvore?

... e o que dizer do extremo de um portão?

... ou da base de uma luminária? tenho já resposta às minhas questões.

história do blog

não lembro o título do meu primeiro blog, mas sei que tinha algo de cinema, teatro e literatura... isso no título, porque o blog mesmo, esse tratava de assunto nenhum! puro nonsense, e da pior qualidade. o segundo levou o título de "além d alguém", assim, e tinha aspecto de diário. o terceiro, "homem d gris", puro passatempo... não muito saudável, admito, persistiu com a mesma temática que enterrou os seus anteriores. o quarto batizei "sem palavras" – convencido de que não tinha mesmo nada a dizer. o quinto, proposta de um espaço de discussão sobre miudezas, nunca emplacou. e o sexto... esse foi sacrificado para dar lugar ao presente, "causos e retratos". por quê? era o mais insustentável de todos os seis! denominado "diário d gratidão", foi uma tentativa de descobrir beleza nas pequenas coisas; ver o lado positivo de cada situação... mas da pior maneira possível. eis alguns dos tópicos abordados: o feijão não estava tão salgado a ponto de comprometer a refeição; hoje não tomei nenhuma cerveja quente; o vizinho fã de césar menotti e fabiano tem um aparelho de som mais potente que a vizinha apaixonada por asa de águia...

como o sexto é o único que de fato deixou de existir, pretendo, algum dia, retomar, aqui, alguns dos temas nele desenvolvidos. questão de nostalgia...

b&w

... curioso.

... sem mais o que fazer.

... não sei por que, mas gosto demais dessa uma.

... um tanto tonto, ainda cansado e com sono.

... o amigo experiente, jamal lucas, estava por perto. não criticou!

experiments

... um cantinho da igreja.

... essa me roubou uma noite inteira, mas acho que valeu.

... em frente ao museu... não sei dizer se é arte! gostei.

... ainda na balada, uma última foto antes de ir.

the hall

there’s a hall in front of me
a damn huge hall i can see
till choose not to look anymore
can the option hall disappear?

eyes opened again i notice a door
not one but many; i don’t know what for
i decide then to check the track
expecting to find some base or lore

few steps later i see myself coming back
thinking that i am possibly mad
close is too far and i can’t get there
i've got my face down, exhausted and sad

but i should proceed, i must dare
it can’t be risky – it’s a hall not a lair
i’m not gonna find any puma or bear
with nothing to lose i should go there

26 de janeiro de 2007

mais ditados... letra "a":

a amar e a rezar ninguém se pode obrigar.
a bom entendedor meia palavra basta.
a carne é fraca.
a fome é o melhor tempero.
a fome faz sair o lobo do mato.
a fruta proibida é a mais apetecida.
a ignorância é a mãe de todas as doenças.
a justiça tarda mas não falha.
a ocasião faz o ladrão.
a preguiça é mãe de todos os vícios.
a pressa é inimiga da perfeição.
a sorte de uns é o azar de outros.
a união faz a força.
a voz do povo é a voz de deus.
achado não é roubado.
água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
águas passadas não movem moinhos.
amigos, amigos; negócios à parte.
antes só do que mal acompanhado.
antes tarde que nunca.
aqui se faz, aqui se paga.
as aparências enganam.
azar no jogo, sorte no amor.
a cavalo dado, não se olham os dentes.
a césar o que é de césar.
a concha é que sabe o calor da panela.
a corda arrebenta do lado mais fraco.
a esperança é a última que morre.
a galinha do vizinho é sempre mais gorda.
a melhor espiga é para o pior porco.
a mentira tem pernas curtas.
a morte não espera.
a necessidade faz a lei.
a noite é boa conselheira.
à noite todos gatos são pardos.
a palavra é prata, o silêncio é ouro.
a pior roda é a que mais chia.
a primeira pancada é que mata a cobra.
alegria de pobre dura pouco.
amigo de todos, amigo de ninguém.
amizade remendada, café requentado.
amor com amor se paga.
amor sem beijo é como macarrão sem queijo.
anda em capa de letrado muito asno disfarçado.
antes calar que mal falar.
antes perder a lã que a ovelha.
apos a tempestade vem a bonança.
as paredes têm ouvidos.
até os prédios mais altos começam de baixo.
atrás de quem corre não falta valente.
azeite, vinho e amigo: melhor o antigo.
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tópico original: velho ditado

meia vida

“as pessoas que nada têm a dizer
são muito cuidadosas
na maneira de dizê-lo.”
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sempre quis ser comediante,
não anima dizer que contei uma só piada...
já não me lembro como era, a graça!
foi há muito, muito tempo.

além, sonhei com coisinhas triviais:
amar uma mulher comum, safada,
ainda que de todo leviana,
qualidade qualquer que a torne palpável.

locupletar sem mais-valia.
obter mérito, paz... dignidade não,
o supérfluo permanece supérfluo;
já o restante, dois de cada teria.

experimentar contactos imediatos,
ser abduzido, ter o cérebro estudado.
quis parecer que vi fantasma,
e assim ter histórias pra contar.

enlouquecer com o tédio do dia a dia,
banalizar a loucura de fim de festa...
esquecer.
nascer e morrer, sempre que necessário.

mcmatador

sílvio motta era um rapaz ordinário, se não gordo; um ser humano deprimido, se não deprimente. filho único de pais separados, sílvio motta vivia com a mãe em um pequeno apartamento no centro da cidade, sufocado entre outros tantos pequenos apartamentos.

a vida não era fácil para sílvio motta, que padecia de não conhecer problema: não trabalhava ou amava, e as demais relações, volúveis, não o preocupavam. a família o percebia estranho; os homens não o tinham como digno de confiança; as mulheres, quando não o ignoravam, divertiam-se com a sua insegurança. no geral, as pessoas não o levavam a sério. não acreditavam que ele pudesse ser, como posso dizer, infeliz: sílvio motta, como qualquer fracassado, devia ter lá a sua cota de felicidade, diziam. devia gozar ao terminar o joginho no modo mais difícil... ou quando o jornaleiro lhe entregava a edição mensal de seu quadrinho favorito.

é, sílvio motta era um de nós, com suas derrotas e conquistas, seus altos e baixos. apesar de parecer um rapaz infeliz, sem aspirações, desejo, perspectiva... sílvio motta era um de nós.

certo dia, ordinário, deprimente, estava sílvio motta comendo, sentado à varanda de um fast food próximo, quando foi gentilmente abordado por um pedinte, que sugeriu que sílvio motta lhe completasse um sanduíche. sílvio o olhou com indignação: como pode! um homem saudável incomodar as pessoas dessa maneira. o dinheiro que pede na certa é para comprar cachaça, presumiu. o mendigo interpretou o olhar, e o silêncio, como não. agradeceu e saiu. não! voltou. voltou e dissimuladamente espirrou sobre a refeição de sílvio motta. esse fitou novamente o pedinte, e seu semblante foi da indignação, passando pela consternação, até relaxar em um sorriso agradecido. sílvio motta tinha agora uma missão. já não era o rapaz apático, sem vida de outrora.

no dia seguinte sílvio motta voltou à lanchonete, a mesma do dia anterior. e o mesmo pedinte tinha acampamento armado em frente ao estabelecimento. sílvio olhou, mas não encarou. entrou e pediu uma oferta – sanduíche, batata e refrigerante. procurou por uma mesa tranqüila, sentou-se. esparramou na bandeja as batatas, pingou sobre elas dois pacotinhos de ketchup, comeu, intercalando entre um punhado e outro um trago generoso de coca. depois, com estranho cuidado, retirou o sanduíche da embalagem, como se fosse ele, sílvio motta, um funcionário que esqueceu um ingrediente importante e precisa remontar o sanduíche. na seqüência sacou do bolso um vidrinho minúsculo, desses que moças bonitas nos entregam em lojas de departamento com amostra de perfume, tirou a fatia de pão que coroava o sanduíche e salpicou generosamente o veneno.

o fluoracetato de sódio costumava ser um veneno popular no controle de ratos e outras pestes, isso antes de ter o uso restrito pelas autoridades. uma pequena dose, que pode ser facilmente acomodada na ponta do dedo indicador, é suficiente para matar um homem adulto. sílvio motta conhecia outras substâncias igualmente eficientes: ácido arsênico, cianureto, estricnina... conhecimento que adquirira durante as longas jornadas em frente ao computador, quando mergulhava na rede a evitar os demais predadores.

continuando, agora: sílvio salpicou generosa porção de fluoracetato de sódio, completando o recheio do sanduíche. então cobriu-o, devolveu-o a embalagem, levantou-se e saiu. quando abordado pelo pedinte, em frente a lanchonete, sorriu e disse: não tenho trocado, amigo. mas você pode ficar com o meu almoço. tenho mesmo que perder uns quilos!

aquele dia, em sua missão, sílvio motta e seu vidrinho de perfume estiveram em muitas lanchonetes, distribuindo sorrisos e sanduíches.

à noite, de volta ao seu pequeno apartamento, sílvio motta foi surpreendido por uma festa em razão de seu vigésimo sétimo aniversário. família, amigos, penetras... comida, bebida... um belo cenário. mas sílvio motta estava já saturado – muita batata. foi para o seu quarto. a festa continuou sem ele.

sílvio motta sentia-se frustrado em relação a sua vida, mas tinha agora uma causa para distraí-lo. no dia seguinte voltou a sua lanchonete predileta... qual não foi a sua surpresa quando viu o pedinte nas mesma condição de antes, saudável... foi quando começou a tossir, o pedinte, uma tosse forte, escandalosa, e os traços do rosto de sílvio motta esboçaram uma feição alegre. mas a tosse cessou, o pedinte ajeitou-se e, na direção de sílvio motta, lançou: vai abrir mão do almoço hoje, amigo?

sílvio motta não gostou da piada.

tinha ainda o pequeno frasco carregado, pronto. decidido a tirar a prova, pediu uma outra oferta, o especial do dia. mas a segurança que lia no sorriso gaiato do pedinte, do caixa, da garotinha que tinha nariz e lábios lambuzados com maionese lhe tirara a confiança: estaria sílvio motta no caminho certo? procurou não pensar. sentia-se vivo. estava vivo. a insegurança imputada ao longo dos anos havia já lhe privado de muito, de tudo. não ia ceder, não desta vez. mas os olhares delatores, a sabedoria dos pares o incomodava, agora, como nunca. queria matar a todos. excluí-los de sua vida. sem pensar, comeu. morreu.

às putas

sexo sem amor
sem compromisso
cumplicidade
sexo seguro
puro
desejo
o melhor sexo
sexo profissional
banal
humano
com ou sem decepção
amor
às putas

brincadeira existencial

tudo o que há
é
e existe
e coexiste
com o que há
sendo
tudo

do pó ao pó

inspirado em texto sem título, pé ou cabeça, de lúcia marra.
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euvidério trocou a lâmpada do quarto-sala – luz! os olhos cerrados, habituados à ignorância, despertam, tímidos – luz! euvidério agora não pode esconder o seu mundinho: uma vida apertada, em uma própria incômoda essência, acomoda um comportamento ordinário.

atribuições? Esperar, só – o trabalho de tantos outros partidários. esperando, desperdiça energia no elaborar teorias sem substância e intrigas infantis... os dias passam... euvidério ignora...

esperar... todo o resto é rotina: despertar, resistir, armar... se... olhar, assear, aceitar... se, apenas... alimentar... uma folha mastigada displicentemente pronuncia: homem morre envenenado. lembrou um primo distante, silvio motta.

com terno engomado e cabelo penteado, apresentou-se no horário acordado... e com estranha satisfação assistia a toda retórica e formalidade, o ritual: coisa bonita os meandros da igreja, refletiu.

a morte é mesmo de uma brevidade impressionante! a vida.

anos mais tarde, euvidério tornou ao cemitério – ocasião na qual todas as atenções estavam voltadas para si. seus olhos, ainda que fechados, a tudo e todos perscrutavam. estava diferente! tinha um sorriso insistente, ainda que descrente, no canto da boca. um alguém disse que era sarcasmo. mas, não! era felicidade.

sorte na vida

a história de um homem comum:

em 1956, mês quarto, décimo primeiro dia, nasce joaquim oliveira. garoto saudável, pesado, homem de futuro. nos primeiros anos de vida, brincou; também deixou de brincar – exigência do pai, severo. seguiu. os primeiros passos; as primeiras palavras; travessuras... releva-se – o homem cresce. no básico, destaca-se – mas sem muito destaque, porque, nesse período, tudo é muito passageiro, as pessoas não notam. do ensino médio temos algumas lembranças: uma boa dúzia de raparigas; medalhas no futebol; um primeiro lugar na feira de ciências – vulcão em erupção, ordinário e eficaz. vem a faculdade, com aprovação no segundo vestibular, excelente – no período, mas duas dúzias, ou três, de interessadas. mas é difícil viver como arquiteto... distrito federal, melhor pleitear uma vaga no serviço público... como? estudando. r$ 1.200 o primeiro cursinho, à vista. joaquim amarga o 1149º lugar – 38 vagas para o cargo pretendido. a vida segue, mas não dura, disseram. parte para o segundo turno: terceiro colocado, satisfatório, acredita. segue. estabilidade, tranqüilidade, fraternidade... sorte na vida. joaquim não estava muito certo, mas, vez ou outra, descansado no conforto de uma poltrona, a um canto da sala de estar, encontra-se satisfeito. o escritório de obras, que abrira com a ajuda o pai, prosperava... tempo de agir, seguir. uma esposa, uma companheira, não trouxe algo que não alegria... e um ou outro aborrecimento, mínimo, em discussões sobre o cotidiano e a vida... no mais, prazer. seqüente e conseqüentemente, vieram os filhos. lindos, mínimos, saudáveis. esses crescem, assim como o patrimônio de dr. oliveira. em família, seguem, felizes, diria. 2004, 2005, 2006... dr. oliveira e seus filhos, criados, assistem ao noticiário no fim do dia... apoiado no ombro da filha, a dilatação anormal de uma artéria cerebral leva-a ruptura, sem vômito, rigidez na nuca ou convulsão. é quando morre joaquim oliveira, próspero, pai de dois filhos.

velho ditado

seqüela de um projeto passado, coleciono ditados. à época, referia-me aos tais como expressões cristalizadas da língua, mas ouvi também: adágios, aforismos, anexins, máximas, provérbios, rifões... nomes bobos à parte, acho que seria interessante compartilhar. dessa forma, se alguém lembrar algum que não consta da lista, poderia enriquecer o conjunto, que está mesmo um tanto pobre...

uma letra de cada vez, começo com "q":


quando a barriga está cheia, toda goiaba tem bicho.
quando a cabeça não pensa o corpo padece.
quando a esmola é grande o santo desconfia.
quando o gato sai, os ratos fazem a festa.
quando um burro fala, o outro abaixa a orelha.
quando um não quer, dois não brigam.
queda de velho não sobe poeira.
quem mais jura, mais mente.
quem anda com porco só farelo come.
quem cala consente.
quem casa quer casa.
quem com ferro fere, com ferro será ferido.
quem conta um conto aumenta um ponto.
quem dá aos pobres empresta a deus.
quem desdenha quer comprar.
quem diz o que quer, ouve o que não quer.
quem é vivo sempre aparece.
quem espera sempre alcança.
quem já foi rei nunca perde a majestade.
quem não arrisca não petisca.
quem não chora não mama.
quem não deve não teme.
quem não tem cão caça com gato.
quem nasceu para burro nunca chega a cavalo.
quem nunca comeu melado, quando come se lambuza.
quem pariu mateus que o balance.
quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não sabe da arte.
quem quer faz; quem não quer manda.
quem ri por último ri melhor.
quem sabe faz, quem não sabe ensina.
quem semeia vento colhe tempestade.
quem tá na chuva é pra se molhar.
quem tem boca vai a roma.
quem tem telhado de vidro não atira pedras no vizinho.
quem tudo quer tudo perde.
quem vê cara não vê coração.
querer é poder.
quando a razão fala presta atenção no que diz.
quando o pobre come frango, um dos dois está doente.
quanto maior é o coqueiro maior o tombo do coco.
quem ama a rosa suporta os espinhos.
quem avisa amigo é.
quem canta seus males espanta.
quem cochicha o rabo espicha.
quem com os cães se deita, com pulgas se levanta.
quem dorme com criança acorda molhado.
quem morre de véspera é peru de natal.
quem não pode com mandinga não carrega patuá.
quem não se enfeita por si se enjeita.
quem nasceu para dez réis não chega a vintém.
quem o feio ama, bonito lhe parece.
quem procura acha.
quem reclama o rabo inflama.
quem tem padrinho rico não morre pagão.

25 de janeiro de 2007

você e eu

foi divertido ver você sorrir
dormir tranqüilo com você no colo
trocamos prosa, tapa, verso
dividimos uma cama pequena
apertada para tantos eus

foi quando, de súbito
a vida percebemos, restrita
com tantas possibilidades
e fadados, ambos, ao desencontro
trocamos prosa, verso

o amanhã, por fim, promete
mesmo a mais intensa lembrança
sem vestígio qualquer desfazer
num destino marcado, distante
trocamos verso, ainda


gostaria de oferecer essas linhas, ébrias, legítimas porém, a você, ana, que não as ouviu, não conhece a voz... e sente.