do pó ao pó
inspirado em texto sem título, pé ou cabeça, de lúcia marra.
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euvidério trocou a lâmpada do quarto-sala – luz! os olhos cerrados, habituados à ignorância, despertam, tímidos – luz! euvidério agora não pode esconder o seu mundinho: uma vida apertada, em uma própria incômoda essência, acomoda um comportamento ordinário.
atribuições? Esperar, só – o trabalho de tantos outros partidários. esperando, desperdiça energia no elaborar teorias sem substância e intrigas infantis... os dias passam... euvidério ignora...
esperar... todo o resto é rotina: despertar, resistir, armar... se... olhar, assear, aceitar... se, apenas... alimentar... uma folha mastigada displicentemente pronuncia: homem morre envenenado. lembrou um primo distante, silvio motta.
com terno engomado e cabelo penteado, apresentou-se no horário acordado... e com estranha satisfação assistia a toda retórica e formalidade, o ritual: coisa bonita os meandros da igreja, refletiu.
a morte é mesmo de uma brevidade impressionante! a vida.
anos mais tarde, euvidério tornou ao cemitério – ocasião na qual todas as atenções estavam voltadas para si. seus olhos, ainda que fechados, a tudo e todos perscrutavam. estava diferente! tinha um sorriso insistente, ainda que descrente, no canto da boca. um alguém disse que era sarcasmo. mas, não! era felicidade.
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